Caminhada

Sapatos na nuca
Saia amarrada
Embaraço de fios
passos marcados

Areia nos olhos
Pouca visão
Areia dos dedos
Roçando no chão

Cabelos ao vento
Cabeça no ar
Olhar esquecido
De tanto calar

Longa caminhada
Na areia molhada
Gotas da jornada
Na saia enrugada.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

A Compaixão


Primeiramente, gostaria de agradecer a paciência e a confiança que os nossos amigos espirituais tem tido comigo e agradecer a oportunidade de estar aqui na frente, falando com vocês hoje. É impressionante que todas as vezes que temos um compromisso que está mais ligado ao mundo espiritual e menos as questões materiais, sempre acontecem fatos que nos levam a adiar ou cancelar o compromisso espiritual.

Semana passada passei por uma cirurgia, nada grave, apenas a retirada de uma hérnia umbilical. Operei e quando fui ver na agenda, minha palestra estava marcada para dali a 4 dias. Liguei para a responsável pelas palestras no centro pedindo a ela para colocar outro palestrante em meu lugar, mas dessa vez o plano espiritual fincou o pé e ela me enviou uma mensagem radiante: Olha que bacana, conseguimos mudar a sua palestra para 7 dias depois, trocando com outra palestrante! A questão era que após a cirurgia eu tive a cefaleia pós-raquiana, que para quem não sabe, é uma dor de cabeça insana causada pela agulha que é aplicada na coluna. Essa agulha pode, a cada 100 pacientes, secar a medula espinhal e causar cefaléia. Eu fui premiada! O médico disse: para resolver você tem duas opções, volta no hospital, tira o seu próprio sangue e aplica no buraco da agulha, isso dói muito e pode não dar certo. A outra opção é passar 7 dias deitada, esperando passar, foi o que escolhi.

Já passou, graças a Deus, portanto, pode-se dizer que essa palestra foi escrita na horizontal. Mas estou muito feliz porque o plano espiritual dessa vez foi firme, me chamou e estou aqui, para cumprir a minha missão que é transmitir a vocês a mensagem de hoje.

Compaixão, esse é o tema de hoje. E é engraçado porque esse tema tem tudo haver com determinação e força de vontade. Acredito pelo que andei estudando que a compaixão verdadeira só ocorre quando acompanhada de muito esforço pessoal.

Nas minhas andanças pela internet na busca de textos e histórias interessantes, achei a de um certo juiz que resolveu ser voluntário. A sua primeira experiência como voluntário foi entrar, com um nariz de palhaço, em um hospital e o objetivo era alegrar as crianças da ala de queimaduras.

Um objetivo que ele imaginava ser muito difícil... Ao olhar as crianças o seu coração ficou pequenino, apertado de piedade no início. Mas ele precisava fazer o seu trabalho. Depois de alguns minutos, ele esqueceu da piedade e no meio de risadas, acabou se entregando e esquecendo que eram crianças queimadas. Depois de um tempo, ele deu asas ao palhaço e conseguiu arrancar gargalhadas. Ao sair, feliz e satisfeito por ter cumprido seu objetivo, um garotinho de uns 5 anos, com bandagens e esparadrapos cobrindo todo o seu rosto, puxou a sua calça e pediu para que ele se abaixasse. Ele desceu a orelha e o garoto falou com olhinhos felizes: Tio, não parece mas eu estou rindo! (fonte: Revista Vida Simples, 2007)

Nós homens, em meio ao nosso orgulho, estamos sempre esperando algo em troca daquilo que fazemos. Se você trabalha mais, quer ganhar mais, se ajuda alguém, quer contar com aquela pessoa lá na frente e por aí vai... Na época de Cristo, muitos não acreditavam que Jesus era o salvador, porque aguardavam um guerreiro, forte, viril, que faria justiça montado em seu cavalo, em vestes de ouro e espada reluzente.

Em meio a nossas percepções mergulhadas em questões materiais, aguardamos a salvação e um reconhecimento em grande estilo. Muito dinheiro, louros, fama, poder...mas Jesus e a própria vida nos mostra que Deus age de forma singela, misteriosa as vezes. Se não estivermos atentos, de coração aberto, pode ser que nem consigamos perceber quando Deus nos envia mensagens, quando Deus nos mostra o caminho...

Gostaria de propor um breve retrocesso e análise da vida desse juiz e pedir a vocês que voltem comigo nessa história.

Eu não sei a idade do juiz, mas vamos imaginar que ele tenha por volta de uns 50 anos. Vamos imaginar também que ele é uma pessoa comum, como qualquer um de nós. Depois de uma vida boa, com muitas experiências, com a vida feita, os filhos e netos encaminhados, parecia que a vida carregava um vazio. Então ele pensou, o que posso fazer para preencher esse vazio? Viajar, ficar com os netos, trabalhar já não consegue preencher, então, preciso fazer mais alguma coisa...

Por muitos anos, ele ensaiou algumas ações, tentou aqui, tentou ali, ajudou seus filhos, seus familiares, muitas pessoas que passaram por suas mãos no tribunal, mas algo dentro dele dizia que tinha que fazer mais, que aquilo ainda não era o suficiente.

Um certo dia, esse juiz teve uma crise nervosa e foi parar no hospital. Nada grave, porém, algo aconteceu na saída do hospital. Ele já estava no corredor, prestes a sair pela porta quando viu um movimento estranho, algumas risadas e, chegando mais perto, pode perceber algumas pessoas usando nariz de palhaço. As risadas vinham de crianças que estavam internadas, e riam muito.

Ele provavelmente achou interessante, já tinha visto isso em um filme mas nunca tinha pensado com mais profundidade no assunto.

Pediu um cartão e resolveu pesquisar o assunto pela internet. Pode ser que ele não tenha contado para ninguém o que pretendia fazer e começou, sozinho, a frequentar as aulas de preparo para ser um voluntário.

Tenho uma amiga, a Beth, que frequentou esses treinamentos para voluntariado e disse que é necessário pelo menos um ano de preparo. Você tem que passar por psicólogos, entre outras coisas mais. Tem que estar realmente preparado para enfrentar, com força, o que vai ver quando inicia o trabalho. Não é tão simples assim...

Vamos imaginar que depois de um ano, ele, nervoso, resolveu encarar o primeiro dia com todas as dúvidas e inseguranças que temos ao fazer algo pela primeira vez. E quando envolvemos uma responsabilidade tão nobre como essa, o peso de dar certo é muito maior.

Por mais que você imagine algo que vai fazer, por mais que se prepare, nunca é igual a experiência de se vivenciar a realidade. E no momento que o juiz entrou pela porta daquele quarto, o seu coração começou a palpitar muito ao se deparar com aquelas criaturinhas de Deus, muitas com cicatrizes que ele nunca imaginou ser possível ter em vida. No começo, ele não conseguia pensar em outra coisa, ele pensava no quanto era difícil viver daquele jeito, como devia ser dolorido. Ele só pensava na dor. E pensar na dor nos leva a ter piedade. Porém, se nos apegamos na dor, na piedade, estamos na verdade sofrendo junto com a pessoa. E quando sofremos nós ficamos presos nesse sofrimento. O sofrimento nos reprime, nos deixa pequenos, tristes e não conseguimos agir.

Mas algo se apoderou dele, todo o preparo, o seu objetivo era fazer rir e então, ele levantou a cabeça, colocou o nariz de palhaço e começou o show.

Depois de tudo isso, de toda essa avalanche de sentimentos, ouvir o garotinho de cinco anos, todo embalado em bandagem, dizendo: - tio, não parece, mas estou rindo - não seria o mesmo que ouvir de Deus: Vai meu filho, esse é o caminho?

Talvez, se ele não estivesse ouvindo de verdade, isso não o teria tocado como tocou. Mas eu imagino que essa vozinha pequena abriu, como um cirurgião o coração daquele homem e mudou a sua vida. Tocar de verdade o coração, é isso que a verdadeira compaixão faz conosco. Vem no coração e nos aplaca em nossos sentimentos mais puros.

Joanna de Angelis fala que a compaixão é uma ponte de mão dupla, de um lado vem a aflição e do outro avança o socorro.

A compaixão é o primeiro  passo para se colocar em prática as virtudes morais. Com isso, você abre espaço dentro de si para a paz interior e o bem estar pessoal.

A compaixão nos ajuda a encontrar o equilíbrio psicológico e faz com quem paremos para pensar no problema do outro. Ela nos ajuda a eliminar o orgulho que existe dentro de nós e ainda por cima, diminui o peso dos nossos problemas.

Olha que ótimo: o simples desejo de ajudar o outro já nos proporciona mais alegria no coração e inclusive, ganhamos uma disposição física que muitas vezes nem sabíamos que existia em nós. Quantos depoimentos vemos de pessoas que vão trabalhar em lugares que passaram por calamidades e destruição e dizem passar dias sem dormir sem se cansar. Quando estamos ajudando o outro esquecemos simplesmente do nosso cansaço, das nossas próprias dores, dos nossos próprios problemas.

Quando exercitamos o sentimento de compaixão, o nosso coração se abre para sentimentos mais profundos, de abnegação, de paciência e somente quem a pratica pode sentir.

Jesus nos deixou a máxima: Amai a Deus sobre todas as coisas e uns aos outros como a ti mesmo.

A compaixão é um exercício maravilhoso para praticar essa lei, pois quando você a pratica você aprende a desenvolver o amor por todas as coisas, por todos os filhos de Deus. Você aprende a amar o outro. Mas para amar o outro, como está na lei, é preciso se amar, não é mesmo? Como podemos dar um sentimento ao outro se não temos ele dentro de nós? Se você não está bem consigo é impossível ajudar o outro.

Para falar disso, gostaria de trazer outro exemplo:

Lembram que falei que uma amiga minha, a Beth, realiza trabalhos de voluntariado? Pois é, ela me contou um episódio que nunca me saiu da mente. Certa vez, ela chegou em um certo hospital e havia uma criança, uma menina de uns 9 anos, pelo que me lembro. Segundo lhe fora informado, essa garota tinha uma doença incurável que a obrigava a ficar no hospital durante longos períodos, em meio a picadas de agulha e exames invasivos. Seu humor não costumava ser dos melhores.

A Beth, mesmo assim, encarou o desafio de contar histórias a essa menina.

Ao adentrar o quarto do hospital, a mãe estava de canto, com a cara fechada e a menina, emburrada, deitada na cama. A Beth viu aquela cena, respirou fundo e tentou o primeiro contato mas foi logo repelida. A garota não queria ler, não queria nada, só queria que a deixassem em paz. A mãe ficou irritada com a falta de educação da garota, o que piorou o ambiente a se trabalhar.

Beth, sem saber o que fazer, pegou um papel e uma caneta e começou a desenhar. Saiu, foi ao banheiro e quando voltou, a garota estava riscando o caderno com uma caneta preta, quase dilacerando a folha. Vendo aqui, a Beth pensou rápido, pegou outro papel e começou a fazer o mesmo. Naquele momento, estabeleceu-se uma ligação de competição, uma riscava de um lado, a outro de outro e as duas se viram em guerra. Depois de um tempo, começaram a rir e enfim, quebrou-se a barreira inicial e a garota aceitou brincar, ler histórias e curtir um dia diferente dos outros.

Onde quero chegar? Muitas vezes, achamos que ter compaixão é entregar ao outro aquilo que achamos que a outra pessoa precisa, mas vai além disso. É preciso se envolver de verdade e é por isso que dá tanto trabalho.

Ter compaixão é enxergar o próximo e entender sobre o prisma do outro a necessidade dele. É preciso ter paciência, ouvir, sentir, dar tempo para que se estabeleça uma ligação, entender de verdade como é possível ajudar o outro.

Dar dinheiro para Instituições de caridade, doar bens materiais são atitudes louváveis, mas são fáceis, basta abrir a carteira. O que toca verdadeiramente o coração não está ligado a questões materiais. As vezes a gente precisa de um ombro amigo, de alguém que nos escute, que seja firme conosco, que nos ajude a tomar novas direções e isso demanda tempo e paciência, coisas raras hoje em dia.

Muita gente fala que não tempo para dedicar ao outro, que já tem muitos problemas mas quer melhor campo de batalha que a nossa própria casa para exercitar a compaixão?

Nossa família, nosso ambiente de trabalho são um prato cheio para treinar nossa paciência, nossa perseverança, nossa força de vontade. Nossos filhos, pais, amigos, colegas de trabalho são ótimos ambientes de exercício e perseverança.

A questão é que isso dá trabalho, é preciso envolver-se, para ajudar de verdade é preciso prestar atenção no outro, olhar ao redor e parar de sentir pena de si mesmo.

Muitos dicionários confundem a compaixão com pena. A gente aprende a ter dó das pessoas, quantas vezes escutamos na infância: - Filha, você não tem dó de deixar comida no prato com tanta gente passando fome? Quando temos dó ou pena estamos pensando na verdade que o outro é inferior e que sem a nossa ajuda, provavelmente não conseguirá resolver suas questões. Quer dizer que então que você é superior ao outro?

Se o sentimento de compaixão vem do fundo do coração, na verdade, quando ajudamos temos que envolver quem sofre com um cobertor generoso, solidário. Temos que ver o outro como um igual que está passando uma dificuldade momentânea. Temos que ter consciência que naquele momento a situação é essa mas que em outros momentos, você poderia estar passando por aquilo.

É preciso sempre lembrar que todos estamos sujeitos a passar pela mesma dor que outras pessoas estão passando. Que todos temos momentos difíceis e perceber que o outro precisa da sua ajuda e se você pode ajudar, faça. Compaixão está totalmente ligada a ação.

Aqui no centro, certa vez, ouvi um palestrante contar uma história que nunca me saiu da mente. Ele contou um episódio do cotidiano do Chico Xavier: Certa vez, ele estava caminhando na rua com um amigo e de repente, um bêbado lhes pediu dinheiro. O Chico sacou de algumas moedas e deu ao bêbado. Na mesma hora, seu amigo falou, mas por que você deu dinheiro a ele? Ele vai beber! E o Chico disse: - Se ele precisa disso agora, deixe que beba.

É muito fácil julgar os outros. Nós nunca sabemos exatamente tudo o que se passa com o outro porque isso só seria possível saber realmente se estivéssemos na pele dele, vivendo as experiências dele, não só nessa existência mas em todas as que se passaram. Como espíritas, sabemos que apesar de não lembrarmos de nossas vidas anteriores, temos experiências e muitas vivências guardadas em nós, conduzindo nossa existência.

Nossos sentimentos, nossas dores são só nossas e por mais que reclamemos aos outros, se jogássemos todas as dores agora, aqui na nossa frente, com certeza escolheríamos as nossas próprias de volta.

Muitas pessoas pensam que o outro é feliz, mas quando temos contato real com o outro, a gente percebe que todos temos problemas e, muitas das vezes, você não toleraria e nem intenderia como o outro consegue aguentar certas coisas. E não é o excesso ou a falta de bens materiais que mede o grau de felicidade das pessoas.

Quem aqui não tem amigos com muito dinheiro, poder e mesmo assim, se sentem tristes e vazios? Quantos amigos ricos seus se sentem sós, tristes e desamparados? As coisas que valorizamos na terra são muito diferentes das coisas que valorizamos em espírito. Leiam o evangelho, o Livro dos Espíritos. Quanto mais estudamos, mais descobrimos que nossos valores estão muito deturpados quando estamos na terra.

E quando, por alguns momentos nessa vida damos ouvidos aos nossos corações, abrimos nossa alma, conseguimos ouvir o outro de verdade e compreender suas angustias e realmente ajudar. Quando isso acontece, se apodera de nós um sentimento impressionante, quase impossível de se explicar. Um sentimento de satisfação enorme, de dever cumprido.

Temos que lembrar ainda que tudo o que temos nessa vida é nos emprestado. Sabemos que cada agulha que recebemos nessa vida, mesmo que pareça fruto de nossa luta, é apenas um empréstimo do qual teremos que prestar conta algum dia.

As nossas verdadeiras riquezas são as lições de amor que tiramos daqui. Levaremos em nossa bagagem espiritual o amor das pessoas que conquistamos, o amor daqueles que ajudamos. Como na parábola das sementes jogadas ao longo da estrada, cada semente que jogamos no nosso caminho irá florescer segundo nossas obras. Se jogarmos muitas sementes boas, que lindo será o nosso caminho. Se plantarmos flores diferentes, de tamanhos diferentes, teremos um jardim colorido e diversificado.

Porém, se passarmos a vida inteira sem plantar nenhuma semente, nosso caminho será seco e sem vida, triste, sem amigos, sem ninguém que nos ame, sem ninguém para amar.

Se ainda não soubermos amar, não tem problema. Sempre há tempo. Como eu disse no início dessa palestra, a compaixão é fruto de exercício, de força de vontade. Da mesma maneira que nos esforçamos num trabalho novo com vistas a ganhar mais dinheiro, devemos nos esforçar a amar com vistas a ganhar mais amor.

Comecem a amar se amando. Cuidem do seu espírito, estudem, cuidem do seu templo, do seu corpo. Comam bem, pratiquem exercícios, gostem do que olham na frente do espelho. Façam bem o seu trabalho, sintam-se satisfeitos com os resultados de suas lutas. É preciso estar bem para ajudar o outro.

Para cuidar bem da alma, pratique o amor. Doe um pouco do seu tempo para ouvir sua família, ligue para seus amigos somente para perguntar se está tudo bem. Você muitas vezes nem precisa dizer nada, apenas ouça. Dedique um tempo do seu mês para fazer caridade, veja algo que você gosta de fazer. Ler? Escrever? Desenhar? Cuidar de animais? Algo que de repente você deixou de fazer mas gostaria de voltar um dia. Faça isso gratuitamente para os outros. Quando você já gosta é mais fácil porque você se dedica e aprende mais. Leia para idosos, para crianças. Participe de organizações que tiram animais da rua. Desenhe para os outros. Se você consegue juntar algo que ama com a compaixão, você pode descobrir um universo completamente novo de amor, paz, tranquilidade para seu coração.

Agradeço a Deus e a vocês. Estar aqui hoje, partilhando essa mensagem é para mim um bálsamo. Todas as vezes que estudo e falo com vocês, eu sinto o garotinho falando pra mim que está rindo. Eu sinto que o caminho certo é fazermos o que gostamos e dar isso ao outro. Adoro falar em público, ensinar, dar aulas e fazer isso aqui, com um conteúdo tão importante é realmente uma escola pra minha vida. A grande verdade é que, quando a gente pratica a compaixão, na verdade, quem mais recebe somos nós mesmos.

Desejo a todos muita força de vontade, muita luz e que possamos deixar a compaixão invadir as nossas vidas.

Fiquem com o Pai e muito obrigada.

Joyce Baena.
Palestra ministrada em 9 de agosto de 2012.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Determinismo e Livre Arbítrio


Boa noite, queridos irmãos. Primeiramente gostaria de agradecer a presença de todos e pedir ajuda aos irmãos espirituais para inspirarem a minha palestra e me ajudarem a transmitir a vocês, da melhor forma possível, a mensagem que eu trouxe.

Quando eu escolhi o tema determinismo e livre arbítrio eu achei que era um tema fácil, que ia tirar de letra, mas quando eu realmente fui estudar a causa para escrever a palestra, percebi que estava totalmente enganada. O determinismo e o livre arbítrio são dois temas muito complexos, que se chocam em discussões cientificas e espiritualistas até os dias de hoje. Então percebi que eu tinha um grande desafio pela frente.

Para começar a falar do tema eu vou lhes contar uma história, que acredito, vai ajudar a trazer um pouco de luz a essa questão.

"Quanto eu tinha 21 anos, eu estava em um ótimo período da minha vida, afinal nessa idade, a gente não tem muitos problemas pra resolver, normalmente só estuda e namora. Tudo é uma festa.

Eu estava no último ano de faculdade e fazia comunicação na PUC, aqui em São Paulo. Apesar de saber que minha mãe trabalhava para me manter, não tinha muito consciência do seu esforço. Achava que isso era normal, que ela tinha que me bancar em São Paulo mesmo e que eu só precisaria trabalhar depois de acabar a faculdade. Nesse período, eu estava namorando um rapaz ha uns 4 anos e estava super em dúvida se queria continuar namorando ou não com ele.

Nessa época, com um namorado de tanto tempo, normalmente eu usava pílulas anticoncepcionais, que apesar de eu não gostar, me garantiam não ficar grávida.

Eu não sei o que se passa na cabeça de toda mulher em uma certa idade que faz com que ela ache que não pode engravidar. Vocês já pensaram isso? Nossa, todas as minhas amigas pensam isso e eu, naquele momento, também pensei e pimba, um mês sem tomar pílula, fiquei grávida.

Nessa época eu ainda não conhecia a doutrina espirita e muito menos, tinha pensado na questão do determinismo e do livre arbítrio. Mas a questão e que eu engravidei e, com 21 anos, sozinha em uma cidade como São Paulo, grávida de um cara que eu nem sabia se eu queria ficar junto, eu senti um desespero sem fim."

Agora vamos ao determinismo! Como a maioria deve saber, o determinismo é a doutrina ou pensamento que afirma que tudo o que acontece na nossa vida tem uma causa, inclusive nossas ideias, escolhas e atitudes. Ele afirma que um determinado acontecimento não poderia deixar de acontecer, porque foi ocasionado por uma causa anterior. Se eu jogo uma bola para cima, com certeza ela vai subir e descer, batendo no chão. A causa da queda é a gravidade. Para o determinismo, tudo no universo e movimentado por relações de causa e efeito.

Além disso, o determinismo acha que a nossa liberdade de escolha e na verdade uma grande ilusão. Para os deterministas, as escolhas que nos fazemos não poderiam ser de outra forma, porque houveram uma sucessão de eventos que aconteceram antes dessa escolha que fizeram que você escolhesse exatamente aquilo, naquele momento.

Não é nada estranho pensar assim, porque a nossa própria natureza e regida por causa e efeito, os cientistas usam o determinismo para estudar e desenvolver seus projetos científicos, não é mesmo? Acho que aqui todo mundo já estudou as leis de Newton!

Agora vamos voltar a minha história...

"Pelo determinismo, eu engravidei porque tinha que acontecer, já que nossas escolhas e atitudes são apenas uma ilusão e o nosso cérebro é e nossa vida são comandados pelas mesmas leis que regem a natureza...

É uma ótima opção, me parece bem interessante, visto que, se eu não tinha escolha, eu ia engravidar de qualquer jeito. Então eu poderia dizer a minha mãe quando ela virou pra mim e disse: minha filha, o que fizeste!!! Ai eu diria: mas mãe, estava no meu destino, foi o determinismo mãe!!! Você sabe que tudo funciona assim! Por mais que eu quisesse que fosse diferente, isso ia acontecer.

E gente, isso realmente acontece na nossa cabeça, muitas vezes eu ainda penso que a minha filha, linda, maravilhosa, incrível estava realmente pré-determinada a aparecer na minha vida.

Antes dela, eu era uma adolescente sem responsabilidade, tirava boas notas mas não trabalhava, não ajudava minha mãe, só curtia a faculdade e o dinheiro que ela me mandava. Queria tudo mas não me esforçava por nada. Quantas vezes a minha mãe tentou arrumar um estagio pra mim mas eu continuava na inercia...

Mas quando eu engravidei, não sei, algo se apoderou de mim e fiquei mais forte, virei mulher e comecei a sentir o peso da responsabilidade. Depois que a Luiza, minha filha nasceu, virei uma leoa que precisava garantir um futuro para ela e é nisso que até hoje, eu coloco meu empenho."

Então, dentro do contexto  do determinismo, tudo o que acontece na nossa vida esta pré-determinado! E na verdade eu não tenho responsabilidade sobre o assunto, as coisas tinham que ser assim, porque se tivesse sido diferente, pode ser que eu hoje não fosse nada do que eu me tornei. Talvez nem estivesse aqui dando essa palestra nessa altura da minha vida.

Mas dessa forma, nós seriamos como máquinas. Seria totalmente possível para a ciência construir uma máquina como o nosso corpo, outra como o nosso cérebro e reproduzir tudo isso, só seguindo uma série de eventos determinados. E porque isso ainda não acontece? Será que é possível?

Bem, até aqui falamos sobre o determinismo, mas como eu disse no inicio da palestra, estamos aqui para confrontar o determinismo e o livre arbítrio, não é mesmo?

Se eu agi por livre arbítrio, na verdade, poderia não ter acontecido. Eu engravidei por livre e espontânea vontade, já que a lei de causa e efeito se estende a questões físicas e não aos nossos pensamentos e atitudes, afinal, somos livres para escolher o que queremos ou não. Ou seja, temos livre arbítrio!

Mas o que é efetivamente o livre arbítrio?

No livro dos espíritos. O codificador pergunta, no capitulo da lei da liberdade, questão 843, se o homem tem livre arbítrio, ou seja, liberdade e pensar e agir?

Os espíritos respondem:  se o homem tem a liberdade de pensar, ele tem a liberdade de obrar, porquanto, sem o livre arbítrio o homem seria uma máquina!

Na questão seguinte, eles respondem ainda que conforme se trate de espirito mais ou menos adiantado, as predisposições instintivas podem arrasta-lo a atos repreensíveis, porem, nao existe arrastamento irresistível. Sendo espirito encarnado ou desencarnado, sendo consciente do mal a que esteja ou se sinta arrastado, utilize a vontade no sentido de a ela resistir.

Então, faz sentido. Porque sem poder escolher, nos não poderíamos nem sequer pensar. Só que o fato de podermos escolher, nos traz a questão da responsabilidade sobre as nossas escolhas.

"Porque voltando a minha história, da mesma forma que eu escolhi não tomar o anticoncepcional naquele mês, eu poderia ter escolhido abortar... ou poderia ter escolhido ter a minha filha e depois, tê-la dado para adoção. Poderia ter escolhido mandá-la pra minha mãe criar. Eu tive essa opção.

Mas de certa forma, eu tive uma educação, tive o exemplo de uma mãe super leoa que criou 3 filhos sozinha, sem marido, muitas vezes trabalhando 14, 18 horas por dia para dar conta de alimentar e dar um bom estudo para que eu e meus dois irmãos tivéssemos um futuro.

Esse exemplo me ajudou a enxergar que, se eu abortasse, as consequências disso poderiam ser desastrosas para minha vida. Sempre gostei muito de ler e já tinha lido diversos depoimentos de mulheres que haviam abortado e que sofriam para o resto da vida com essa decisão. Já tinha visto casos de mães que deixavam os filhos com as avós e que os filhos no futuro, se viravam contra as mães. Poxa, eu era uma pessoa, que apesar da pouca idade, tinha muito consciência do que poderia acarretar uma escolha errada."

Consciência. Era aqui que eu queria chegar.

Ter livre arbítrio significa que temos capacidade e nascemos com essa capacidade para agir e pensar. É um dom que a gente usa para o bem e também pode usar para o mal. Mas a questão é que sempre teremos que enfrentar as consequências desse mal uso. Quanto mais consciência nós temos, quanto mais conhecimento sobre o bem e o mal que fazemos, mais nos sentiremos responsáveis pelo que praticamos.

Um exemplo prático: Coloque um martelo na mão de uma criança de 3 anos. Ela vai olhar o martelo, o martelo vai olhar pra ela e ela vai olhar pra você e pimba! Pode acertar o seu dedão ou ate coisa pior. E o que você vai fazer? Vai culpá-la? Ela não sabe que o martelo pode machucar, você sabia! Então a responsabilidade era sua por colocar o martelo na mão dela.

Quanto mais experiência adquirimos, maior consciência temos sobre as coisas. Essa consciência nasce da experiência diária, dos exemplos que vivenciamos ao longo da vida.

Não é a toa que muitas pessoas que se envolvem arduamente em causas sociais aliada a drogas, ou na ajuda de doentes de câncer, ou AIDS são pessoas que já passaram por algum problema muito próximo, já tiveram um filho falecido por causa das drogas, já tiveram um pai, mãe ou alguém muito próximo que ficou doente.

Só quando a gente sente na pele é que adquirimos a consciência do que significa aquilo e então, podemos desempenhar todo o nosso amor e dedicação para o assunto, enfrentando todos os desafios que vem atrelados a nossa luta.

Não é fácil fazer o bem. Não e fácil deixar seu filho em casa dormindo para se embrenhar pelo caminho da benfeitoria. Na maioria das vezes, o maior enfrentamento disso é a própria família, que não entende porque você gasta seu tempo ajudando o outro desconhecido e não aos seus próprios.

Toda luta tem uma causa sim, só que escolher lutar é algo maior do que uma máquina poderia fazer. Por mais que os cientistas coloquem os humanos no laboratório e tentem entender porque uma pessoa escolhe uma coisa ou outra, existem questões muito mais complexas a serem entendidas. Uma delas é da Lei da Liberdade.

A liberdade é uma condição básica para que o espirito se realize. Deus nos criou assim, por natureza queremos ser livres mesmo que inconscientemente.

Mas a nossa liberdade não é absoluta porque estamos condicionados a viver em sociedade e todos nós somos livres e por isso, sem regras isso aqui seria um caos.

Muitas vezes, algumas pessoas que tem mais conhecimento que as outras abusam disso, exploram outros indivíduos, humilham os mais fracos. Mas os espíritos já nos disseram: é contraria a lei de Deus toda sujeição absoluta de um homem a outro homem.
Portanto, temos que pensar que a liberdade legítima vem da responsabilidade legítima. Só seremos livres de verdade quando tivermos total consciência da nossa responsabilidade.

Olha que interessante. Isso quer dizer que, quanto mais ignorantes somos, menos responsabilidade a gente tem sobre os próprios atos. Mas isso também faz com que sejamos menos livres. Quanto maior a nossa consciência, mais livres seremos.

Voltemos a minha história. Se eu não tivesse consciência de que fazer um aborto seria algo que me faria mal e eu o tivesse feito, provavelmente, passaria uma vida inteira de arrependimento para aprender isso. Hoje, talvez eu estivesse aqui dando essa palestra, mas envolta em uma onda pesada, de tristeza, falando sobre essa tristeza. E não adianta, por mais filhos que eu tivesse ao longo do caminho, aquele bebê que eu tirei, ficaria para sempre como uma ferida em meu coração.

E provavelmente, eu teria que desencarnar para encontrá-lo e pedir perdão e talvez ele me desse a chance, em outra vida, de eu trazê-lo de volta e dar amor e carinho a ele.

Mas o exemplo da minha mãe, o conhecimento que adquiri nos livros e com certeza a experiência de vidas passadas, me libertaram dessa dor.

Trouxe um texto de André Luiz para pensarmos um pouco ainda sobre a questão:

“Ninguém nasce destinado ao mal, porque semelhante disposição derrogaria os fundamentos do Bem Eterno sobre os quais se levanta a Obra de Deus.
O Espírito renascente no berço terrestre traz consigo a provação expiatória a que deve ser conduzido ou a tarefa redentora que ele próprio escolheu de conformidade com os débitos contraídos.

(...)Desse modo, ninguém recebe do Plano Superior a determinação de ser relapso ou vicioso, madraço ou delinqüente(…). Padecemos, sim, nesse ou naquele setor da vida, durante a recapitulação de nossas próprias experiências, o impulso de enveredar por esse ou aquele caminho menos digno, mas isso constitui a influência de nosso passado em nós, instilando-nos a tentação, originariamente toda nossa, de tornar a ser o que já fomos, em contraposição ao que devemos ser.”

O que isso quer dizer?

Se Deus é amor e não existe nada fora de Deus, podemos deduzir que não existe nada fora do amor. O que é contrário a lei de Deus, na realidade não existe de forma absoluta e pode ser considerado algo transitório.

Se nós agimos seguindo a lei de Deus, entramos em seu campo de vibração e passamos a desfrutar desse amor. Quando a gente age contra essas lei, na verdade estamos desiquilibrando a nós mesmos e nada mais. É como uma vibração, se Deus esta em cima e você se desiquilibra, você desce seu campo vibratório. Você fica em baixo pois está desiquilibrado, mas a Criação não, ela continua em cima. E pra voltar pra cima o caminho é sempre mais difícil, pra descer é sempre mais fácil.

Esse voltar pode ser muito lento ou mais rápido, de acordo com a nossa conscientização sobre o assunto e a nossa vontade de corrigir o erro. Assim, existem espíritos que se arrependem e corrigem rapidamente seus erros e aqueles que se revoltam e as vezes, demoram séculos e séculos para resgatar os tantos erros que foram cometidos, um apos o outro.

As leis de causa e efeito são muito claras e elas podem ser percebidas no nosso dia-a-dia. Se você chega em uma loja e sorri para o atendente e pede para ver um produto, automaticamente, o atendente vai sorrir de volta e trazer o produto com simpatia. Se você tratá-lo mal e xingá-lo, ele automaticamente vai ficar com raiva de você e também vai tratá-lo mal.

Tudo o que você faz volta com uma intensidade igual e contraria para você mesmo.  Quando escolhemos o caminho do erro, a gente na verdade está criando uma reação contraria de igual intensidade que vem contra nós mesmos e isso causa o desiquilíbrio. Dai, segue que, ao adquirir consciência, descobrimos que precisamos reverter o mal que fizemos no sentido contrário, para que possamos alcançar o equilíbrio perdido.

Sendo assim, o homem só é livre de verdade antes de pensar ou de agir, porque no instante que faz uma ação, está condicionado a um retorno, mais cedo ou mais tarde.

A lei de causa e efeito não tem caráter punitivo como muitos pensam, e sim educativo e evolutivo. Ela sempre nos levará a um só caminho: o de Deus, o de amor. Quantas vezes já ouvimos que todo caminho levam ao Pai? Jesus sempre dizia isso.

"Hoje minha filha está grande, bonita. Graças ao pai, consegui, até agora, trabalhar com dignidade e garantir seu sustento com estudos. Além disso, quando ela nasceu, o espiritismo surgiu na minha vida como uma luz nos momentos em que me senti perdida, mas não me contive em ler uma coisinha ou outra. Venho estudando desde 2004, cinco anos aqui nessa casa e mantenho, dentro de casa, um estudo do evangelho no lar. A  Luiza participa do evangelho desde que tem 3 aninhos. Mesmo quando ela não queria participar, eu forçava por acreditar que isso iria fazer muito bem pra ela.

O que mais me impressiona nisso é que, depois de um tempo, não só ela, mas todas as suas amiguinhas ficavam super interessadas no assunto durante o evangelho, quem estivesse em casa no domingo, 7 da noite, tinha que participar.

E elas adoravam, por incrível que pareça! Quando você coloca uma criança para estudar o evangelho, para entender as questões que ela tem acesso, sofre mas não entende propriamente como estudo, tais como paciência, misericórdia, respeito ao próximo, a máxima do amor... elas se encontram, ficam mais conscientes e felizes por entender como agir e se sentem melhores com seus atos.

Hoje, com 13 anos, ela me fala que os amigos pedem conselhos a ela e até os mais velhos ficam admirados com o seu conhecimento sobre a doutrina e sobre as questões morais. Ela só tem 13 anos, mas há 10 estuda os princípios morais."

Não tenho nenhuma pretensão de dizer que o determinismo é o certo ou que o livre arbítrio realmente existe. Só estou trazendo fatos de que a lei de causa e efeito existe em nossas vidas e através dos nossos atos que vamos garantir um futuro melhor. Mas ao mesmo tempo, somos espíritos e nossas atitudes e escolhas são conduzidas pelo liberdade de agir e, com certeza, trazem efeitos para nossas vidas, baseado nas causas que foram geradas por nossas escolhas.

É da nossa responsabilidade, estudar, participar da vida em comunidade e mais do que isso, ajudar os nossos filhos a fazerem seu caminho em direção a Deus, ao amor, mais rápido que nós, usando da nossa experiência para dar passos maiores. Uma maior consciência sobre nossos atos nos ajudará a ter mais liberdade de escolha, pois saberemos melhor onde cada ação poderá nos levar e assim, sofreremos menos com o efeito.

Na minha vida, a Luiza foi uma boa escolha, mas tive muitas outras erradas e ainda terei um longo caminho para alcançar a Deus. Mas espero, que trazendo essa boa escolha como exemplo, eu possa ajudá-los a entender que, um dia todos nós seremos livres, porque como já disse antes, todos os caminhos levam a Deus. Só precisamos ser fortes e estarmos conectados com o alto, para que nossas escolhas sejam as melhores possíveis.

Assim poderemos ser livres de verdade.

Fiquem em paz.

(Palestra escrita e ministrada por Joyce Baena em 21 de junho de 2012, baseada em fatos reais)

sexta-feira, 6 de abril de 2012

A voz dentro de mim

36 é uma idade estranha e ao mesmo tempo mágica. A gente olha pra frente e vê muita coisa pra fazer, mas já tem uma noção do que deixou pra trás. já começa a enxergar onde errou, onde pode ser arrumado, onde precisa finalizar, onde precisa recomeçar.

As mudanças são sempre dolorosas, mas quando enxergamos melhor, quando nos trabalhamos para entender melhor as questões que envolvem a nossa vida, a piscina começa a ficar mais límpida.

Tenho olhado pra dentro já há alguns anos e começo a enxergar melhor o que quero. Meu alter ainda é muito pequeno, quase imperceptível, mas começa a existir dentro de mim. Isso causa atritos com as pessoas que amo, principalmente com as que sempre ditaram a minha vida. Pela primeira vez, começo a ouvir a minha própria voz.

Ter capacidade racional é fácil, o problema é quando você nunca teve formação emocional e de repente, tem que trabalhar com isso. Dar ouvidos á própria voz que sempre fica lá dentro, gritando baixinho é muito difícil, principalmente quando essa voz ainda é criança, ainda não foi desenvolvida.

Mas é bom saber que ela existe, que ela pode falar, por mais doloroso que seja, por mais que as pessoas ao redor não entendam suas novas atitudes. O maior prêmio é que vc mesmo começa a se entender. Isso realmente não tem preço.

Estou atenta agora, pode falar.